300 milhões de espectadores não podem estar errados: a história de amor que emocionou e lotou os cinemas chegou à Netflix
Os fãs da saga “Crepúsculo” (2008-2012) respiraram aliviados quando “Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2” chegou aos cinemas do mundo inteiro, no final de 2012.
Terminava uma das mais bem-sucedidas séries baseadas em livros infantojuvenis de todos os tempos e seus cinco longas protagonizados por uma garota humana, um vampiro e um lobisomem atraentes, descobrindo o amor e seus muitos perigos, história que, claro, reserva bastante espaço para mostrar os prazeres e os desconsolos de uma relação dessa natureza.
A implacável sensação de estranhamento, de não pertencer a lugar nenhum que acompanha o trio de personagens centrais por cinco anos foi decisiva na comoção do público, crianças e adolescentes que não tardaram a espelhar-se em Isabella Swan, Edward Cullen e Jacob Black e a buscar neles respostas para suas inquietações. Com o sucesso na tela, a autora Stephenie Meyer foi escrevendo um romance atrás do outro, até que chegar no desfecho harmonioso que o diretor Bill Condon transforma numa tentativa de recapitular lances fulcrais dos quatro filmes anteriores ao passo que elabora esse último movimento, também cheio de pequenas e grandes surpresas.
O roteiro de Melissa Rosenberg faz com que “Amanhecer – Parte 2” comece justamente do ponto em que o anterior parou. Bella dera à luz Renesmee, sua filha com Edward, e aqui o filme já prepara uma reviravolta, que vai destrinchar em breve. Renesmee não é uma criança normal, por evidente, e Mackenzie Foy catalisa as primeiras impressões do espectador quanto à, digamos, irreverência da família Swan Cullen. Bella teve de concordar em ser transformada numa vampira em tempo integral para evitar complicações no parto, e essa foi a senha para que Kristen Stewart desse a sua anti-heroína um pouco de leveza, uma vez que a moça não tinha mais nada a perder mesmo. A sequência em que ela e o marido experimentam as maravilhas sobrenaturais de sua nova vida tem lá sua graça, sempre envoltas num humor um tanto pueril, contudo eficiente — lembre-se de quem é o público-alvo de Meyer.
Para quem nunca pôde engolir o inegável tom de melodrama da franquia, “Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2” presta-se a um ótimo exercício de observação do cinema recente em seus vários aspectos, especialmente no que toca aos rumos que uma carreira pode tomar. Depois de “Crepúsculo”, Robert Pattinson tomou um pouco de sol e se despiu da alvura doentia de Edward Cullen em produções indie a exemplo do ótimo “O Diabo de Cada Dia” (2020), dirigido por Antonio Campos, e “O Farol” (2019), levado à tela por Robert Eggers — para não falar do Batman de Matt Reeves em 2022 —; Stewart, por seu turno, aprimora-se na difícil arte da disciplina, principalmente numa carreira tão ingrata, e tornou-se uma intérprete digna de todas as oportunidades que consegue. Quanto ao lobinho, Taylor Lautner continua a não saber como sair da armadilha do sucesso, o que comprova a máxima que diz que um filme pode ser vários. Ou até nenhum.