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Baseado em livro que virou fenômeno mundial, o filme mais esperado de 2024 chegou à Netflix

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Baseado em livro que virou fenômeno mundial, o filme mais esperado de 2024 chegou à Netflix

Sentimentos tão nobres quanto a relação de um pai e seu filho podem aflorar da lama de algo sórdido como o narcotráfico?

“Festa no Covil” é uma história sobre o alcance do tráfico de drogas, mas levada em banho-maria pelo diretor Manolo Caro, que destaca a natureza um tanto absurda de um pai criminoso que se esforça para manter o filho numa gaiola de ouro, devidamente protegido da influência da marginalidade que garante a vida de fausto do menino.

O filme, adaptação do livro de mesmo nome do mexicano Juan Pablo Villalobos publicado em 2010, tem muito do realismo fantástico de Gabriel García Márquez (1927-2014) sem contudo perder sua própria identidade, qual seja, elucubrar sobre as impressões falsas e verídicas de um garoto de inteligência privilegiada mas que não atina para os detalhes sombrios que cercam a vida do pai, não se sabe se por um cinismo, uma vez que usufrui de uma vida nababesca, ou se por já ter se deixado de tal maneira enfeitiçar por tamanho luxo que não consegue mais separar diamante de vidro. O roteiro de Nicolás Giacobone, famoso depois do ótimo “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” (2022), o drama a um só tempo intimista e excêntrico dirigido por Alejandro González Iñárritu, balança entre esses dois polos, centrando as energias num argumento assumidamente vesano, o que não deixa de reforçar o disparate que rompe a trama.

Um dos maiores desafios que viver em sociedade implica é descobrir em si mesmo algum predicado misterioso, que só nosso próprio espírito indevassável conhece, e fazê-lo percebido por todos, mas não de qualquer maneira. É preciso que se chegue com delicadeza — mesmo que tudo não passe da mais grosseira encenação —, com a tranquilidade necessária para convencer quem nos rodeia de que somos, sim, a maravilha que queremos que pensem que somos, sem contudo deixar transparecê-lo, e se possível dando a impressão de que não estamos nada interessados no que os outros hão de pensar de nós. O homem passa a vida defenfendo-se de seus próprios impulsos, abafando a vontade de rebelar-se contra toda a insana fantasia que o cerca, socorrendo-se na arte para não ter de valer-se da medicina, e dessa forma refinando o propósito de se aperfeiçoar, de fazer da permanência no mundo um tempo menos atribulado e mais aprazível.

Pouca gente têm a capacidade de iludir tão refinada quanto Yolcaut, o gângster interpretado por Manuel García-Rulfo. Vendo-se de fora, ninguém diz que esse homem é capaz de amar tanto outra pessoa, mas Yolcaut busca a lua se assim o quiser Tochtli, o filho único que vive cercado de livros e adultos nefastos como o pai. MiguelValverdeconduz a narrativa para sequências de improvável ternura, sobretudo na introdução. Uma cena em que o garoto precisa decidir-se por um chapéu para se colocar na presença dos outros à mesa pode arrancar lágrimas dos mais sensíveis, já que o garoto tem o crânio totalmente nu. Não se sabe se está enfermo ou convalesce de um mal grave; todavia, o mistério dos hipopótamos, outro dos presentes exóticos (e caros) que Tochtli recebe de Yolcaut, é o que de fato intriga o público até o fim, mesmo que em muitas ocasiões Caro pareça glamorizar o estilo de vida do personagem de García-Rulfo. O maior incômodo que “Festa no Covil” provoca.

Filme: Festa no Covil
Direção: Manolo Caro 
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Comédia 
Nota: 8/10

REVISTA BULA - POR GIANCARLO GALDINO EM FILMES - 01/05/2024 - 13:52
 
 
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