EPIDEMIA DE GRIPE: saiba por que sua alimentação pode ser a melhor vacina contra a doença

Com aumento da gripe, especialista alerta: imunidade começa no prato e no intestino
Na última semana de maio, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou dados preocupantes no Boletim InfoGripe: 72,5% dos óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil foram provocados pela Influenza A, vírus responsável pela gripe. O levantamento indicou que adultos e idosos são os mais afetados, mas o crescimento dos casos também atinge crianças e adolescentes. No total, 22 estados e 19 capitais estão em situação de alerta, risco ou alto risco para SRAG.
Segundo o Metrópoles, com esse aumento expressivo, cresceu a preocupação com a imunidade, inclusive entre quem não pertence aos grupos de risco. De acordo com a nutróloga Fernanda Vasconcelos, a alimentação tem papel essencial na prevenção e fortalecimento do sistema imunológico.
“A alimentação afeta mesmo a imunidade? Sim, e a relação é de causa e efeito. O sistema imune depende da ingestão regular de vitaminas, minerais, antioxidantes e compostos bioativos. Nutrientes como vitamina C, D, A, E, complexo B, ferro, zinco e selênio participam da formação de células de defesa e anticorpos, além de protegerem o organismo contra inflamações e infecções. Uma alimentação baixa em nutrientes enfraquece as barreiras naturais, como o intestino. A barreira intestinal é essencial para impedir a entrada de toxinas. Quando ela está fragilizada, aumenta a inflamação sistêmica e o risco de doenças em vários órgãos. Além disso, a alteração da permeabilidade intestinal pode interferir no metabolismo, dificultando a perda de gordura e o ganho de massa magra”.
Quanto ao que comer para fortalecer o corpo, ela recomenda uma dieta variada, natural e rica em nutrientes. “Frutas cítricas (acerola, kiwi, laranja, tangerina): ricas em vitamina C; Alho e cebola: ação antimicrobiana natural; Castanhas e sementes: fontes de zinco e selênio; Vegetais roxos, verdes-escuros e alaranjados: contêm compostos bioativos que fortalecem as células de defesa; Proteínas vegetais, como os grãos, peixes gordurosos, linhaça e chia: ricos em ômega 3 e vitamina D, Iogurtes naturais com probióticos: modulam a flora intestinal”.
Ela cita também um estudo publicado no Nutrition Journal. “Segundo o estudo The total antioxidant content of more than 3100 foods, beverages, spices, herbs and supplements used worldwide, publicado no Nutrition Journal em 2010, alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, grãos, nozes e sementes apresentam, em média, 11,57 mmol de antioxidantes por 100g, enquanto alimentos de origem animal, como carnes, ovos, peixes e laticínios, registram apenas 0,18 mmol por 100g. Isso significa que o reino vegetal tem cerca de 64 vezes mais antioxidantes. Ou seja, priorizar ingredientes e proteínas vegetais é eficaz para blindar o sistema imunológico”.
Por outro lado, alguns hábitos alimentares comprometem a imunidade. “A lista inclui alimentos ultraprocessados, açúcar refinado, gordura trans, álcool e até excesso de cafeína e outros inflamatórios. Estes compostos aumentam a inflamação do organismo e comprometem a absorção de nutrientes. O café, por exemplo, pode dificultar a absorção de minerais e vitaminas no intestino”. Ela reforça ainda: “Além disso, o consumo excessivo de gordura saturada, comum em produtos de origem animal e óleos como o de palma e o de coco, também compromete a imunidade. A recomendação é que a gordura saturada represente no máximo 10% da ingestão calórica total”.
Fernanda também alerta para sinais do corpo que indicam baixa imunidade. “Infecções frequentes (gripe, herpes, candidíase); Cansaço excessivo; Queda de cabelo e unhas fracas; Cicatrização lenta; Problemas de pele, como dermatites e feridas recorrentes, Déficit de memória e concentração. Esses sintomas podem indicar deficiências de ferro, zinco, vitamina B12, vitamina C, vitamina D ou até aminoácidos essenciais”.
Mas nem só de comida vive o sistema imune. “Além da alimentação, o sono de qualidade, exercícios físicos regulares, hidratação adequada e controle do estresse são pilares fundamentais da imunidade. Durante o sono, o corpo reorganiza seus sistemas, regula hormônios e fortalece as defesas. Já a prática de atividade física contribui para a liberação de substâncias anti-inflamatórias e auxilia na saúde cerebral”.
Ela também comenta a importância do intestino. “Alterações intestinais também podem impactar a produção de neurotransmissores como serotonina e melatonina, o que afeta o sono, o humor e até o apetite. Por isso, manter o intestino em equilíbrio é essencial não só para o sistema imune, mas para o bem-estar como um todo”.
Por fim, Fernanda comenta sobre o uso de suplementos e chás. “Não existem soluções mágicas para fortalecer a imunidade contra a gripe e outras doenças. Tomar grandes quantidades de vitamina C quando se está resfriado não cura a infecção. Esse é um mito. Nenhum suplemento substitui uma alimentação equilibrada, variada e completa. Os suplementos são úteis em casos específicos, com orientação adequada, mas não funcionam como atalho. O mesmo vale para os chás. Embora algumas infusões possam conter compostos benéficos, elas não substituem uma dieta saudável. Tem chás que ajudam, mas também existem plantas tóxicas. É preciso cuidado e informação”.
DIÁRIO DE SÃO PAULO - Manoela Cardozo Publicado em 14/06/2025, às 11h07