A organização não governamental Doutores da Alegria, conhecida por sua atuação humanitária em hospitais públicos, enfrenta uma crise financeira sem precedentes que ameaça a continuidade de seu trabalho. Com mais de três décadas dedicadas à promoção do bem-estar em unidades hospitalares, a ONG foi obrigada a interromper suas atividades após uma drástica redução de 70% nas doações em 2024, comparativamente ao ano anterior. A arrecadação de pouco mais de R$ 2 milhões mostrou-se insuficiente para sustentar o projeto.

A equipe dos Doutores da Alegria, composta por mais de 50 palhaços profissionais, desempenhava suas funções em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. Nos hospitais, como o Instituto da Criança em São Paulo, a presença dos palhaços transcende o mero entretenimento. "Estamos lá como um remédio, trazendo encantamento", afirmou um dos artistas envolvidos no projeto.

Entre as crianças impactadas pelo trabalho dos Doutores da Alegria estão Maitê, com um ano e oito meses, diagnosticada com câncer hepático, e Helena, de um ano e dez meses, que passou por um transplante após um grave caso de hepatite. Mesmo diante desses desafios, elas respondem com sorrisos às visitas. Para mães como Raiane, que acompanha a filha Maria Elisa na sua recuperação, os palhaços representam um alívio temporário das preocupações cotidianas. "Esquecemos os problemas por um momento", confessou.

Devido à suspensão das atividades, importantes eventos foram cancelados, incluindo a expansão das visitas a novos hospitais em Recife e São Paulo. Em resposta à situação crítica, a ONG lançou em setembro uma campanha de arrecadação intitulada "Abrace os Doutores da Alegria", visando angariar recursos para reativar suas operações.

Além de oferecer momentos de alegria às crianças hospitalizadas, os Doutores da Alegria proporcionam suporte emocional às famílias e auxiliam na compreensão lúdica dos procedimentos médicos. Para Amanda Bortoletto, mãe de Maitê, "o amor que eles transmitem é parte fundamental da cura".

A campanha para salvar os Doutores da Alegria permanece em andamento, com a expectativa de que a solidariedade brasileira possa ressuscitar os sorrisos nos corredores hospitalares.

DIÁRIO DE SÃO PAULO - William Oliveira Publicado em 03/12/2024