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Personagens como Mikey Saber, um ex-astro da indústria do entretenimento adulto, representam o que há de mais desprezível no estereótipo do “lixo branco” nos Estados Unidos.
Sean S. Baker, diretor de “Red Rocket”, reforça essa ideia ao ambientar sua história no cenário político de 2016, durante a primeira campanha de Donald Trump, criando uma espécie de alegoria da decadência moral e social. O retorno de Trump à cena política, depois de derrotado, serve de pano de fundo para a jornada de Mikey, que deveria ter acumulado riqueza e prestígio, mas agora se vê forçado a voltar à sua cidade natal, Texas City, sem um tostão, dependendo da ex-mulher, Lexi, e da mãe dela. A narrativa se desenrola a partir desse ponto, com Baker e Chris Bergoch entregando um roteiro repleto de falhas humanas e relações frágeis, criando uma espécie de fábula pós-moderna sobre perdedores e enganadores que transitam por todos os cantos dos Estados Unidos.
Mikey, destroçado e sem perspectivas, tenta de todas as maneiras se reintegrar à comunidade local, mas suas tentativas acabam revelando sua verdadeira profissão, o que não tarda a complicar ainda mais sua situação. Simon Rex traz um toque de humor involuntário ao interpretar esse personagem, que parece alheio às consequências de seus atos. Ao se oferecer como vendedor de maconha para Leondria, a matriarca do bairro, interpretada por Judy Hill, Mikey começa a acumular dinheiro rapidamente, enquanto sua relação com Lexi vai se complicando ainda mais. Bree Elrod brilha como a ex-mulher emocionalmente dependente, presa às lembranças de um passado nebuloso. E à medida que o filme avança, “Red Rocket” mergulha no grotesco, sem nunca perder o humor ácido que permeia a narrativa.
Mikey, no entanto, não traz nada de bom para aqueles que cruzam seu caminho, arrastando-os para a lama. Lonnifer, o vizinho de Lexi, interpretado por Ethan Darbone, é um exemplo claro de como Mikey destrói vidas com sua presença. Porém, o ponto mais perturbador da trama é o relacionamento entre Mikey e Morango, a jovem atendente da loja de rosquinhas, interpretada por Suzanna Son. Baker explora com precisão a dinâmica desse relacionamento ilegal, transformando o encantamento inicial em uma história de manipulação, onde a pureza é corroída pelas intenções egoístas de Mikey. No final, Morango escapa de seguir o mesmo destino trágico de Lexi, enquanto Mikey, sempre indiferente aos sentimentos dos outros, paga caro por sua arrogância e falta de empatia. O filme encerra ao som de “Bye Bye Bye”, uma escolha musical que reforça o tom irônico e mordaz do desfecho.